Entrevista

Presidente do Crea SC não esconde o orgulho de estar à frente de um dos Conselhos com maior índice de eficiência e eficácia do Brasil e com alto grau de inovação.

Entusiasmado com a realização de mais um grandioso Crea Summit, que acontecerá neste final de semana em Balneário Camboriú, o presidente do Crea SC, engenheiro Kita Xavier, conversou com jornalistas da RCN na sede do Conselho, em Florianópolis. Durante a entrevista, ele falou sobre o evento, que registrou o triplo de inscritos em relação à edição anterior, os temas que serão abordados e algumas das figuras emblemáticas que estarão no vasto programa do encontro.

Além disso, o presidente comentou sobre algumas iniciativas do Crea, que são referência no país, incluindo aquelas realizadas em conjunto com os Conselhos do Rio Grande do Sul e do Paraná.

Kita Xavier acaba de ser escolhido para presidir a ASCOP/SC - Associação dos Conselhos Profissionais de Santa Catarina na gestão 2025-2026, entidade que congrega 20 conselhos além da Ordem dos Advogados do Brasil, num total de 500 mil profissionais.  O Crea tem 77 mil profissionais registrados e 318 títulos profissionais e só perde para o Conselho de Enfermagem, em número de inscritos.

Kita Xavier não esconde o orgulho de estar à frente de um dos Conselhos com maior índice de eficiência e eficácia do Brasil e com alto grau de inovação. Confira os principais momentos da entrevista

 Qual a expectativa desta segunda edição do CREA Summit, que começa nesta sexta-feira?

Kita Xavier: O CREA/SC teve, no ano passado, sua primeira edição e foi um grande sucesso, pois trouxemos muitas novidades nas áreas de engenharia, agronomia e geossciências. Este ano, o evento se torna ainda mais grandioso, com mais que o triplo de profissionais inscritos em comparação ao primeiro. As inscrições já estão abertas, e tenho certeza de que será novamente um sucesso, pois os temas que vamos abordar são extremamente relevantes para os profissionais do setor e para as empresas também.

Quais os principais temas?

Kita Xavier: O Summit abordará temas como empreendedorismo, inovação- uma palavra-chave, pois precisamos nos reinventar todos os dias, especialmente em um setor tão dinâmico - inteligência artificial, tecnologia, e trará empresas de startups. A Associação Catarinense de Tecnologia estará presente, assim como o governo do Estado e todo o nosso sistema, com o CREA e outras entidades, para apoiar nossos profissionais. Serão grandes nomes presentes neste evento.

Alguns nomes chamam mais atenção..

Sim, estamos trazendo pessoas importantes! Recentemente, alguém me perguntou: "Por que o Eike Batista vai dar uma palestra?" O Eike é engenheiro, formado na Alemanha, e tem uma trajetória de sucesso, com altos e baixos e ele vai compartilhar sua experiência, e o que podemos aprender com isso.

Quando Eike começou com suas empresas, ele sempre valorizou a engenharia e as geociências. Ele contou com profissionais dessas áreas, como geólogos e geógrafos. Eike é um visionário, participou de diversas atividades e, como empreendedor, sempre teve a engenharia como base. Ele virá para falar sobre sua trajetória, para que possamos aprender com seus erros e acertos, e aplicar essas lições em nossas próprias atividades.

Além disso, teremos a presença do nosso ex-ministro de Turismo, Vinícius Lummertz, uma pessoa muito querida. Quem não lembra da sua atuação no passado? Alguns podem se perguntar o que o turismo tem a ver com a engenharia, mas a resposta é simples: tudo. Toda a infraestrutura relacionada ao turismo, seja a construção de aeroportos, hotéis, rodovias ou até mesmo o desenvolvimento de aeronaves, tem a engenharia por trás. Vinícius também virá para falar sobre como a engenharia pode contribuir para o setor turístico. O Brasil tem uma grande vocação para o turismo, e Santa Catarina, especialmente, pulsa com essa área. Por isso, entender como a engenharia pode apoiar e melhorar o turismo é essencial.

Tecnologia e inovação estão sempre presentes em eventos de diferentes setores. Como a inovação impacta a engenharia?

Kita Xavier: Quando falamos de inovação na engenharia, é impossível não mencionar a tecnologia. Inovações surgem em todas as áreas, como civil, elétrica e mecânica, com novos produtos e ferramentas que auxiliam a sociedade, especialmente aqui em Santa Catarina, que é o berço de muitas empresas de tecnologia. Startups estarão presentes, trazendo ferramentas que ajudam nossos profissionais a oferecer serviços de qualidade e segurança para a sociedade. Inovar na engenharia significa aplicar novas tecnologias e ferramentas para resolver problemas de maneira mais eficiente e trazer benefícios tangíveis. Para quem consome essa inovação, ela significa melhor desempenho, maior eficácia e mais soluções para o mercado.

Teria um exemplo?

Por exemplo, no CREA Santa Catarina, somos 100% digitais hoje. Temos um sistema de Emissão de Certidão de Acervo Técnico (ECAT) que é uma referência nacional: emitimos esse documento em até 24 horas, enquanto em outros estados do Brasil pode levar semanas ou até meses. Isso torna o CREA SC o mais eficiente nesse sentido. Em breve, lançaremos a e-ECAT, que será automática. Com essa ferramenta, o profissional poderá emitir sua ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) e, assim que a obra for concluída e o cliente assinar, o certificado de acervo técnico será automaticamente gerado. Isso agiliza a vida do profissional e é fundamental para participar de concorrências, licitações e concursos, comprovando a experiência do profissional. E apesar de o modelo atual ser eficiente, acreditamos sempre na melhoria contínua. Se fazemos algo bem, devemos buscar sempre formas de melhorar, para entregar melhores soluções aos nossos profissionais e, consequentemente, à sociedade de Santa Catarina.

• Presidente do CREA/SC, engenheiro civil e segurança do trabalho Kita Xavier, (Fotos: Rodrigo Ferreira / Agência ADJORI de Jornalismo)

O CREA investe constantemente na formação e qualificação dos profissionais. Isso é uma marca de sua gestão?

Kita Xavier: Pessoalmente, sempre acreditei na educação e sempre busquei formas de oferecer esse apoio aos colaboradores. Em minha empresa, por exemplo, criei salas de aula para turmas de alfabetização, ensino fundamental e até médio. Essa experiência é extremamente gratificante e tenho orgulho dos resultados que ela gerou.

Sempre fui uma pessoa que valorizou a educação para os meus colaboradores. Por exemplo, dentro da empresa, montei salas de aula e oferecemos turmas de alfabetização, ensino fundamental e até ensino médio. Foi gratificante ver esses colaboradores frequentando as aulas e conquistando seus diplomas e certificados. Muitos deles, inclusive, fizeram cursos técnicos. Lembro-me de um colega que dizia: "Vou fazer engenharia aqui." E é muito bom saber que conseguimos contribuir para isso.

Como entusiasta da educação, levei essa ideia para o CREA e criamos a nossa Universidade Cooperativa, que tem uma missão grandiosa e tem sido um sucesso: qualificar e capacitar nossos profissionais, sempre mantendo-os atualizados para que sejam referência no mercado. Essa ideia sempre foi forte aqui em Santa Catarina, com o objetivo de formar profissionais de ponta. Além disso, investimos em eventos de qualificação técnica por meio do nosso edital de patrocínio, que destina 4 milhões de reais para entidades de classe, instituições de ensino e empresas que promovem cursos, seminários, publicações e eventos técnicos nas áreas de engenharia, agronomia e geociências.

Acreditamos que não basta ter apenas o diploma de graduação. O papel do CREA não é formar o profissional, isso cabe às universidades e instituições de ensino. Nosso objetivo é ajudá-los na qualificação, para que estejam sempre especializados.

O CREA tem alguma iniciativa voltada aos jovens?

Temos diversas iniciativas, como o programa CREA Júnior, que envolve estudantes para despertar novas lideranças. Acredito que liderança é algo que nasce com a pessoa, mas aqui buscamos apoiar esse processo, ajudando-os a se inserirem no mercado, a entenderem nossa legislação e a promoverem ética profissional. Muitas vezes, fala-se sobre a falta de técnicos e profissionais qualificados no Brasil, e queremos que esses profissionais ocupem posições estratégicas, tanto na vida pública quanto nas empresas, e que possam ser referências em sua área.

Além disso, temos o programa CREA Jovem, que oferece suporte para o profissional nos primeiros cinco anos de carreira. Esse programa oferece ferramentas de trabalho, como softwares gratuitos nos primeiros anos e bons descontos para que possam se firmar no mercado. Sabemos que os primeiros anos após a formatura são desafiadores, e o CREA oferece até 90% de desconto na primeira anuidade, além de fornecer recursos para que esses profissionais consigam executar seus primeiros projetos, sejam empregados ou, muitas vezes, comecem a empreender e gerar novos empregos para a sociedade. Essa é a nossa linha de atuação, o caminho que estamos trilhando.

E quanto ao programa Hotel Seguro. Como ele foi pensado e desenvolvido? 

O Programa Hotel Seguro foi uma iniciativa que criamos para ajudar os hotéis a se adaptarem após a pandemia, abrangendo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O objetivo era fiscalizar os hotéis e garantir que estivessem cumprindo todos os requisitos necessários para oferecer segurança e qualidade aos hóspedes. Aqueles que atendiam integralmente as exigências recebiam o Selo Hotel Mais Seguro.

O programa não se tratava de uma fiscalização punitiva, mas de uma ação preventiva e orientativa. Após a pandemia, muitos hotéis estavam vazios, e a nossa missão foi orientar como se deveria proceder em relação a aspectos como a qualidade do ar, que era uma preocupação crescente naquele momento. Também ajudamos com a manutenção de equipamentos que ficaram parados durante a pandemia, como elevadores, geradores e toda a parte de energia.

Foi a primeira vez em que vi muitas pessoas ligando diretamente para o CREA, pedindo para ser fiscalizadas e buscando o Selo do CREA. Isso foi muito positivo, pois demonstrou o interesse dos empresários em garantir que estavam cumprindo todas as normas e oferecendo ambientes seguros para seus clientes.

Nosso trabalho era simples: passávamos um checklist e, ao apresentarem a documentação necessária, os hotéis recebiam o respaldo do selo, comprovando que todos os serviços foram realizados por profissionais qualificados e que o hotel estava dentro das normas exigidas, especialmente em relação às questões sanitárias, como a renovação do ar e a manutenção de filtros de ar-condicionado.

Foi uma ação importante para apoiar o setor e garantir que os hotéis estivessem preparados para a retomada segura do turismo.

Há outras iniciativas nesse sentido?

São iniciativas do Sul do Brasil, com a participação dos três estados, que têm características um pouco diferenciadas dos demais. Estamos investindo, também, em parques de diversão e no setor agropecuário, criando o Selo Agro Mais Produtivo para reconhecer os melhores desempenhos nesse segmento.

Atualmente, estamos focados em uma nova fase, em parceria com as instituições de ensino. Essas entidades já estão trabalhando em como valorizar as instituições que prezam por um ensino de qualidade. Queremos garantir que essas instituições tenham laboratórios adequados para os cursos de engenharia, professores qualificados para transmitir conhecimento e toda a estrutura necessária para que os alunos possam desenvolver um aprendizado de excelência. Como parte dessa iniciativa, vamos lançar um Selo de Qualidade para essas instituições, reconhecendo o compromisso com a formação de profissionais bem preparados