Tratamento pode retardar sintomas em até 30% dos pacientes, mas exige diagnóstico precoce e monitoramento

A aprovação do donanemabe pela Anvisa trouxe esperança para pacientes e famílias que enfrentam o Alzheimer, mas também abriu espaço para questionamentos sobre custo, eficácia e acesso ao medicamento. O fármaco, que será comercializado no Brasil com o nome Kisunla, é indicado para estágios iniciais da doença e tem potencial de retardar a progressão dos sintomas em até 30% dos casos, segundo estudos clínicos.

No entanto, o preço elevado — estimado entre R$ 30 mil e R$ 35 mil por mês — e a ausência de cobertura pelo SUS limitam o alcance do tratamento no país.

Como o donanemabe funciona

O donanemabe é um anticorpo monoclonal que age diretamente na proteína beta-amiloide, responsável por formar placas nos neurônios e comprometer a memória. Ao reduzir esse acúmulo, o medicamento pode atrasar a evolução dos sintomas.

“Não é um remédio milagroso. Ele apenas retarda os sintomas, que são inevitáveis com ou sem tratamento”, explicou o neurocirurgião Edson Amâncio no podcast Bem-Estar.

Diferenças para os tratamentos atuais

Medicamentos já disponíveis no Brasil, como a rivastigmina, têm outro mecanismo de ação: preservam a acetilcolina, substância essencial para a comunicação entre os neurônios. Esses fármacos são oferecidos pelo SUS e melhoram temporariamente a cognição, mesmo sem diagnóstico definitivo.

A grande diferença é que o donanemabe atua na causa biológica do Alzheimer, mas somente nos estágios iniciais e sem interromper totalmente a progressão da doença.

Limitações, riscos e desafios

Além do custo elevado, o tratamento exige monitoramento contínuo. Entre os efeitos colaterais possíveis estão micro-hemorragias cerebrais. Para acompanhar a evolução, são necessários exames de alta complexidade, como o PET scan, que encarecem ainda mais o processo.

Outro desafio é o diagnóstico precoce, ainda limitado no Brasil. Sem uma confirmação em estágio inicial, o medicamento pode ser prescrito de forma equivocada, frustrando pacientes e famílias.

Por que o tema gera divisão

Parte da comunidade médica defende que a aprovação é um passo importante para novas terapias. Outros especialistas, no entanto, questionam o custo-benefício.

“É improvável que planos de saúde cubram esse medicamento em curto prazo. E o SUS não oferece essa opção”, reforça Amâncio.

Vale lembrar que a Agência Europeia de Medicamentos rejeitou a aprovação do donanemabe em abril de 2024, solicitando estudos adicionais para comprovar a eficácia.

Há formas de prevenção?

Ainda não existe um método 100% eficaz para prevenir o Alzheimer. Mas práticas que estimulam o cérebro podem retardar o declínio cognitivo:

Manter interação social e evitar o isolamento;

Ler regularmente, jogar palavras cruzadas e resolver quebra-cabeças;

Aprender um novo idioma, considerado um dos melhores exercícios para a memória;

Ouvir música e manter uma rotina ativa.

“A leitura é o melhor remédio para a memória. Quando você lê, ativa praticamente todo o cérebro”, ressalta Amâncio.

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